Golpe no proletariado

A rotina no Brasil dá um afago pra cada 30 tapas na cara

Na quarta-feira descobri que meu cartão de crédito foi clonado após ver uma compra de 9,99 DÓLARES na minha fatura. 9,99 DÓLARES que se transformaram em 60,27 REAIS.

Eu não sei se fiquei mais triste de ter que bloquear meu cartão ou de ver ali, na minha cara, o quanto o real está desvalorizado.

Apesar das dores que meu siso tem dado ao meu pescoço e boca, havia certo otimismo no ar com a anulação das condenações de ♫ Lula lá, brilha uma estrela ♫ (se você ainda não sabia, fique sabendo que fui uma criança petista).

Mas tudo começou a ir por água abaixo na mesma quarta-feira supracitada, quando o Brasil bateu o recorde de 2349 mortes por Covid em um único dia.

Já não bastava o teto de gastos aprovado no governo Temer, a reforma da previdência, agora conseguiram tirar o direito de reajuste salarial por 15 anos dos servidores federais e sabe-se deus quanto tempo dos estaduais e municipais.

Minha mãe é funcionária pública desde 2008. Lembro que na época ela ganhava quase dois salários mínimos. Hoje ela não ganha nem um e meio. Como telefonista, não parou de trabalhar um dia sequer na pandemia. Mesmo sendo grupo de risco.

Vale lembrar que médico, enfermeiro, fisioterapeuta, técnico de enfermagem, policiais, bombeiros e afins são todos servidores públicos. Concursados. Com seus salários congelados no pior momento da pandemia até aqui.

Mas qual a vantagem de precarizar o serviço público? Imagina por um momento um fiscal da Receita Federal em 2030 com a defasagem de salário sendo subornado. Ou os candidatos de concurso a partir de agora, você acha que profissionais qualificados vão se submeter a isso?

É pelo mesmo motivo que querem tirar a estabilidade do funcionalismo público. Um servidor sem estabilidade vai precisar se submeter a chefes corruptos e afins, porque se ele brigar, pode ser demitido.

Isso acontece o tempo todo. Servidor que dá “problema” sendo designado para outras áreas. Se pudesse demitir, com certeza seria esse o destino.

Tudo isso rolando por pura chantagem para garantir um auxílio emergencial de 250 reais (na verdade essa é uma projeção média, temos apenas 44 bilhões disponíveis para quatro meses de auxílio — esse valor foi gasto apenas com a primeira parcela em 2020).

250 reais de auxílio numa economia em que o pacote de arroz tá beirando os 40 reais.

Confesso que comecei a escrever esse texto às 10h da manhã e voltei agora às 16h porque não tive estômago. É muito difícil ver isso acontecendo a céu aberto.

O que ninguém responde é qual seria a diferença com quadros do pior tipo dentro desses partidos.

A mesma coisa sobre o possível voto em Doria em 2022. Qual a diferença de um cara que mantém escolas abertas em pleno colapso hospitalar e Bolsonaro? Diria que muito, muito pouco.

O único motivo que eu talvez cogite um voto em Doria é porque um Bolsonaro reeleito deve ser pior que um Bolsonaro eleito. Mas até 2022 tem chão.

Muito chão para arrasarem muito mais essa terra arrasada que chamamos de país.

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