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Num Ano Novo

Perto da uma da manhã, Raquel parou de retribuir sorrisos e começou a orbitar suavemente em torno da mesa dos salgadinhos. Decidiu que até ao fim da festa seria uma pessoa “insignificante” e “pouco reactiva”. Caso lhe dirigissem a palavra, o que era manifestamente improvável numa casa daquele tamanho, ela teria pronta uma expressão facial que pedira emprestada às séries policiais: olhar anfíbio, testa crispada e boca fechada-talvez-para-sempre, o rosto do inspector que observa o psicopata genial através dos vidros fumados da sala de interrogatórios, sentindo-se terrivelmente em desvantagem. Pouco depois das duas da manhã, Raquel quis ir apanhar ar. Lá fora, cruzou-se com um colega de escola que já não via há mais de uma década, vindo de outra festa. Sabia que o seu nome começava por H e que nunca tinham falado muito para além de uns quantos sarcasmos trocados numa aula de educação física, à qual os dois assistiram sentados na bancada porque se esqueceram de trazer o equipamento exigido — calças de fato de treino (no caso dela) e sapatos de corrida (no caso dele). Raquel olhou para H., que avançava cabisbaixo e iluminado pela cor verde de um semáforo, e tentou, por momentos, imaginar as namoradas e os empregos que ele teria tido desde esses tempos do décimo ano. Tentou, mas tudo parecia pouco credível. Percebeu que o H. actual, este rapaz que agora se atravessava no seu caminho, seria uma figura muito mais atraente, e muito menos inescrutável, se eles não tivessem já esse passado em comum, isto é, se ele lhe fosse um completo estranho. H. olhou para ela e parecia ansioso e não muito sóbrio. Passaram um pelo outro sem atrito. Acelerando o passo, Raquel resolveu seguir para casa. A cidade, naquele instante, tinha qualquer coisa dessa placidez abstracta típica dos cenários exteriores das telenovelas, e eles eram como que duas personagens que haviam sobrevivido às suas próprias cenas e agora deambulavam sem guião, testemunhas de uma liberdade arrasadora.

***

Hélder subiu as escadas descalço, para não acordar a mãe. Ouviu as vozes de adolescentes que passavam à frente da sua casa, e pensou que eles também deveriam gostar de trap, mas não pelos mesmos motivos que ele. Assim que entrou no quarto, pousou a mochila e tirou de lá uma garrafa de plástico, bebendo de seguida o que lhe pareceram três litros de água. Depois ficou estendido no chão, de barriga para cima, a sentir-se um labirinto de vasos percorridos por líquidos, uns mais viscosos que outros, alguns deles tóxicos. As coisas que lhe apareciam no pensamento, isto é, a sua vida consciente, seriam três ou quatro janelas abertas que o distraíam suficientemente desse programa de líquidos a correr em segundo plano. Maximizou a janela onde passava o vídeo curto e insistente do seu encontro com Raquel, praticamente um GIF. Raquel era a melhor aluna da sua turma do décimo ano; nunca esperou encontrá-la fora daquele ambiente duríssimo da escola secundária, quatro andares e três pavilhões onde os jovens iam chocando entre si e procurando gostar das mesmas coisas e comparecer nos mesmos eventos. Os melhores amigos eram, na prática, aqueles que empreendiam os maiores esforços para controlar os movimentos, os humores e os pensamentos uns dos outros — e nas raras vezes em que não eram bem-sucedidos, sentiam um calor torpe e triste, como se estivessem a chocar alguma gripe. Hélder não foi um rapaz muito popular no secundário, menos ainda na faculdade, onde se jogava essencialmente o mesmo jogo mas com regras mais arbitrárias. E agora lembrava-se de tudo isto por se ter cruzado com Raquel, que se afigurava, na rua deserta às duas da manhã, como uma espécie de sombra, mais uma emanação sensível do seu passado que um ser humano com uma existência autónoma.

Fechou a porta do quarto e telefonou a Rui, que ficou na festa (a última vez que o viu estava no jardim a tirar fotografias ao anfitrião, que precisava de actualizar o seu perfil de Facebook “para parecer um pouco menos snob”). Rui era o único amigo que lhe sobrava da turma do décimo ano e por certo lembrava-se de Raquel.
– Sabes quem é que eu vi quando estava a vir para casa? — perguntou Hélder, julgando erradamente que já tinha iniciado a chamada com um “olá”.
– Já estás em casa?
– Sabes quem é que eu vi?
Quem é que tu viste? — perguntou Rui, imitando a voz dele. Como todas as pessoas quando imitam outras vozes, Rui fazia-as sempre mais esganiçadas do que a sua. Isto despertou em Hélder um sentimento profundo de irrealidade, semelhante ao que uma vez sentira ao ver três filmes seguidos na mesma noite.
– A Raquel.
Ouviu-se, distante, a música da festa. Alguém se riu. Rui falou após alguns segundos de silêncio:
– Estão a dizer que eu hoje pareço triste. Achaste que eu estava triste?
– Não reparei. Acho que não.
– Nem te cheguei a desejar um bom ano. Bom ano.
– Bom ano.

Às quatro da manhã, o quarto de Hélder adquiria os tons de um opressivo azul-escuro, que não era a cor da morte, mas dos pequenos prazeres e pequenos venenos fluindo em perpétua ressuscitação. Estendido na cama, com as roupas da rua ainda vestidas, Hélder fazia resoluções de ano novo que articulavam todas elas um só desejo de fugir para o interior do país e viver uma vida “auto-suficiente”. A palavra “auto-suficiente” exercia um fascínio frustrante sobre ele; não porque não soubesse o que ela queria dizer, mas porque lhe parecia muito difícil construir frases correctas que a incluíssem. Hélder revirou-se uma e outra vez na cama e por fim voltou ao telemóvel. Procurou o perfil de Raquel no Instagram. Não a tinha achado especialmente bonita nem guardava recordações muito pormenorizadas de como era a sua personalidade, mas procurá-la era algo de novo, acelerava a mudança, como quando ele trocava mensagens com amigos e esperava que a aparência da novidade nas vidas deles transbordasse para a sua.

Encontrou a conta de Raquel através de um contacto em comum e começou imediatamente a segui-la. Antes de adormecer espreitou a instastory dela, quatro posts ao todo. O primeiro, “publicado há 15 horas”, era uma selfie tirada no banco traseiro de um carro, acompanhada de uma votação onde se completava a frase “Se eu fosse uma Coreia, eu seria a do…” — 60% dos que votaram seleccionaram a opção “Sul :)”, e os restantes 40% escolheram “Norte >:(”. O segundo post, “publicado há 7 horas”, era uma fotografia de grupo com duas outras raparigas numa varanda, à qual Raquel anexara um relógio que presumivelmente teria feito a contagem decrescente para o ano novo, e que agora se encontrava parado nas 00 horas, 00 minutos e 00 segundos. O terceiro post, “publicado há 4 horas”, era um vídeo de um cão rafeiro a esfregar-se delirante contra restos de sacos de plásticos, por vezes ladrando ao fogo-de-artifício. Por fim, o quarto post, “publicado há 2 horas”, era a fotografia de um rapaz a dormir com a cabeça no colo de Raquel — era lícito pensar que se tratava do namorado dela. Terminada esta breve viagem pelo dia de Raquel, Hélder carregou no botão para deixar de a seguir e foi à cozinha preparar uma sandes. Enquanto descia as escadas, ele reflectiu sobre o mérito estético da casa onde vivia. Não era verdadeiramente acolhedora para quem lá morava, nem constituía uma visão muito agradável para os vizinhos que a conheciam desde sempre, mas tinha talvez um certo encanto, uma certa razão de ser que só poderia ser devidamente apreendida por aqueles que passavam por ela de carro muito depressa — e essas pessoas, as que estavam de passagem, eram apesar de tudo a maioria. Seria afinal de contas uma beleza justa. Hélder perguntou-se, por instantes, se isto não poderia ser dito acerca de tudo, não apenas da sua casa. É claro que não, pensou ele, havia com certeza excepções — mas de momento, não lhe ocorria nenhuma.

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